Rei D. Dinis.
Finalmente, ganhei coragem e vergonha e lá fui, madrugada fora, com a mala cheia de paciência, rumei à loja do cidadão.
Objectivo: Não dar em doida; Tirar o C.U.; Renovar o passaporte.
Cheguei, às portas estavam a abrir e confirmei o que há muito já sabia, não sou claustrofóbica, mas tenho pavor a espaços com circulação de ar forçada e atulhados de pessoas com os seus respectivos odores corporais, com comportamentos suburbanos e sem espelhos em casa (basicamente sou anti-social, lamento, mas não tenciono mudar muito a este respeito).
Segui as indicações e retirei a senha 47 (quando no leitor se lia, número 11, avizinhava-se uma longa espera, mas eu estava munida de paciência, sono e ipod com muita bateria).
Arranjei o lugar suficientemente arejado para me sentar e “jogar” qualquer coisa. Não consegui, iniciei todos os jogos que tinha comigo, peguei trinta mil vezes no telemóvel, fechei-me no meu mundo, abstraindo-me do que se passava à minha volta. Ignorei os guinchos das crianças que limpavam as bocas e mãos sujas de iogurtes e bolachas, nas pessoas que por lá circulavam, sob o olhar pavio das respectivas mães, bem como ignorei as “amigas acabadas de fazer na fila da loja do cidadão”com conversas banais e brejeiras.
Ali estava eu, no meu momento Ally McBeal, a imaginar coisas fantásticas mas igualmente irreais.
Ao meu lado, sentou-se o Dinis, O Rei, e a sua mãe. Pensei, que seria o momento oportuno para desligar por completo e “dormitar” até a minha vez chegar. Mas a conversa entre eles começou assim [o Rei, tem apenas 7 quase 8 anos]:
Dinis – Mãe, porque é que em Portugal não há Reis?
Mãe – Porque as pessoas escolheram ter presidentes e ministros ao invés de Reis.
Dinis – Mãe, se as pessoas quiserem ter outra vez Reis, podem?
Mãe – Se assim escolherem, sim.
Dinis – Mãe, ser rei é mais difícil que presidente e ministro?
Mãe – Sim, Dinis (já a desesperar, com tanta pergunta).
Dinis – Mãe, como se chama a mãe do rei?
Mãe – Rainha-mãe.
Dinis – Se eu fizer muitas contas, posso um dia ser rei?
Mãe – É preciso estudar muito.
Dinis – Mãe, vou estudar muito para um dia ser rei, tu rainha-mãe e eu fazer uma festa para encontrar a minha princesa.
Mãe - ?!?!?!
Dinis – Mãe, vai no número 24, nós somos o 56, logo para a nossa vez, faltam……………. [muitas contas, dedos e rezas depois]…….. 32.
Mãe – Certo.
Dinis – Vês mãe, eu vou conseguir, um dia vou ser rei.
A boa noticia, é que no painel apareceu 47, levantei-me, tratei do meu C.U.. Pacientemente fui “simpática” com a funcionária [pública] ágil, eficiente, rápida, amável… A má, é que o sistema que permite tratar dos passaportes está com problemas técnicos a nível nacional, os informáticos do estado não conseguem prever o tempo que o problema irá perdurar, pelo que não será possível, hoje renovar passaportes. Haverá certamente uma visita á loja do cidadão – parte 2 [estou tão ansiosa].
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